Elaboração do Plano de Urbanismo deu origem ao Ippuc
A elaboração do Plano Preliminar de Urbanismo - transformado em Plano
Diretor - e a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (Ippuc) têm relação direta com eventos ocorridos em 1962. Foi
naquele ano que o engenheiro civil Ivo Arzua foi eleito prefeito de
Curitiba, pelo voto direto, aos 37 anos de idade. Em sua gestão, Ivo
Arzua obteve financiamento junto a Companhia de Desenvolvimento
Econômico do Paraná (Codepar) para a elaboração de um plano diretor para
a cidade.
A empresa vencedora da licitação foi a paulista Serete, que manteve
Jorge Wilheim à frente dos trabalhos. Um dos grandes arquitetos e
urbanistas do Brasil, ele foi o principal artífice do Plano Preliminar
de Urbanismo de Curitiba. No site de sua empresa, Jorge Wilheim
apresentou uma reflexão do que representou a construção desse plano meio
século atrás. “Não se tratava, naquele momento, de projetar uma cidade
nova e, sim, de intervir em uma cidade existente, em acelerado
crescimento, acumulando problemas não resolvidos e outros criados no
futuro pelo aumento de sua população e pelas previsíveis mudanças de
funções e de modos de vida”.
Para Jorge Wilheim, o desafio consistia em interpretar a cidade,
detectando suas características e problemas para, a partir dali, avaliar
hipóteses de mudanças, escolhendo as diretrizes que pudessem orientar o
seu desenvolvimento. O novo plano também consistia em propor o formato
de um planejamento contínuo e sustentável, conceito de vanguarda para a
época.
De acordo com o arquiteto, “a proposta era inovadora, pois deixava de
considerar urbanismo como mero desenho urbano acompanhado de uma
legislação impositiva. Do ponto de vista da prática urbanística,
dependia do acerto na leitura da cidade existente e da sensibilidade de
perceber problemas, separando o substantivo do adjetivo”.
Com base no Plano Preliminar de Urbanismo, o planejamento urbano de
Curitiba foi fundamentado sobre o tripé transporte coletivo/sistema
viário/uso do solo, buscando a integração da estrutura física e
funcional da cidade e direcionando seu crescimento. O plano também
previa a construção de grandes parques, a revitalização do centro, a
industrialização, o zoneamento urbano, a regulação do solo, a melhoria
da circulação urbana e a criação de vias estruturais, entre muitas
outras iniciativas inovadoras.
Wilheim também apontou outro ingrediente fundamental para o sucesso
do plano: a necessidade de formação de um grupo local para acompanhar a
elaboração do Plano Preliminar de Urbanismo, capaz de se tornar um
núcleo permanente de planejamento urbano.
Designada pelo prefeito Ivo Arzua, a comissão era composta por Almir
Fernandes, Alfred Willer, César Muniz Filho, Cyro Corrêa Lima, Domingos
Bongestabs, Dúlcia Auríquio, Elgson Ribeiro Gomes, Francisca
Rischbieter, Jaime Lerner, Jair Leal, J. M. Gandolfi, Lubomir Ficinski
Dunin, Léo Grossman, Luiz Forte Netto, Marlene Fernandes, Onaldo Pinto
Oliveira, Reinhold Stephanes, Saul Raiz e Tabajara Wendt da Costa, entre
outros.
Foi esse grupo que deu origem, em 1965, à Assessoria de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba (Appuc). A equipe multidisciplinar era
formada por arquitetos, engenheiros, sociólogos, economistas e
especialistas de várias áreas.
Curitiba do Amanhã
Em julho de 1965, o Plano Preliminar de Urbanismo foi apresentado
para discussão com a comunidade. Participaram dos debates profissionais
liberais, estudantes, jornalistas, associações de bairros, entidades
assistenciais, sindicatos, professores e a população em geral. A cada
encontro do Seminário Curitiba do Amanhã, o Plano Preliminar de
Urbanismo recebia novas críticas e sugestões.
O surgimento do Ippuc
Em 1º de dezembro de 1965, a Appuc foi transformada no Instituto de
Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc). O Instituto nasceu com a
atribuição de zelar pela correta aplicação do futuro plano diretor, que
estava em etapa final de elaboração, além de assumir a responsabilidade
pelo planejamento urbano da cidade.
Meses depois, em maio de 1966, o Plano Preliminar de Urbanismo foi
encaminhado para a Câmara Municipal de Curitiba. O documento foi
submetido a análises em diversas reuniões técnicas até obter a aprovação
dos vereadores. Finalmente, em junho, o Plano Preliminar de Urbanismo
foi transformado no Plano Diretor de Curitiba e o Ippuc assumiu o papel
de guardião da nova lei urbanística.
Além do respeito às diretrizes do Plano Diretor, ao longo dessas
cinco décadas os técnicos do Ippuc usaram de sensibilidade e
criatividade para buscar o desenvolvimento harmônico, adaptando os
conceitos básicos à dinâmica da cidade. Além disso, o Instituto
dedicou-se a encontrar soluções de baixo custo, apoiadas, muitas vezes,
em tecnologia própria, levando em consideração os aspectos sociais,
culturais e ambientais.
O Ippuc teve papel decisivo no processo de transformação da estrutura
física, econômica, social e cultural que consolidou a Curitiba atual. O
modelo de Planejamento Urbano desenvolvido nela tornou-se referência no
Brasil e no mundo.
Atualmente, apoiado em estudos e pesquisas, assim como em indicadores
e modernas ferramentas de gestão, o Ippuc concentra esforços na
integração metropolitana, busca a humanização dos espaços públicos e a
melhoria da mobilidade urbana, além de investir na multimodalidade do
transporte.
No cerne da transformação urbana de Curitiba está o conceito de que o
ser humano é a medida de todas as coisas e a cidade deve ser concebida
como um lugar de encontro dos cidadãos.
Fonte: PMC