domingo, junho 19, 2016

RIO 2016: Comunidade indígena em Boa Vista une tradição e modernidade no revezamento da tocha Olímpica

Comunidade indígena em Boa Vista une tradição e modernidade no revezamento da tocha Olímpica Rio 2016
Chama Olímpica foi recebida com festa tradicional em Campo Alegre (Foto: Rio 2016/André Luiz Mello)

Quando o paraquedista Luigi Cani pousou com a tocha Olímpica na Comunidade Indígena Campo Alegre, zona rural de Boa Vista, Roraima, na tarde deste sábado (18), foi recepcionado por guerreiros e arqueiros, como manda a tradição em momentos de festa. Ele passou a chama Olímpica para a líder local Lourdes dos Santos Sampaio, que vestida de seus trajes típicos, era cercada por outros índios que faziam a parixara, dança da celebração das colheitas e das caças. Só que nem sempre é assim. No dia a dia, os moradores da aldeia vivem como nos centros urbanos: vestem roupas convencionais, usam conexão wi-fi, assistem à televisão e têm diploma do ensino superior.

A #ChamaOlimpica foi recebida com uma música de boas vindas no idioma Macuxi quando chegou em Campo Alegre.

“Existe uma visão preconceituosa em relação aos índios que moram perto da cidade. As pessoas tendem a vê-los como se fossem brancos, para questionar o que conquistaram, como o direito à terra. Mas os índios nunca vão deixar de existir” - Lucas Lima, superintendente de assuntos indígenas em Boa Vista

A Comunidade Campo Alegre fica a cerca de 60km do centro de Boa Vista. Ao todo, pouco mais de 55 mil índios vivem em Roraima, ocupando mais de 46% do território do estado. 

Em Campo Alegre, os alunos do ensino fundamental conhecem primeiro os costumes da aldeia e a região. Além do português, as crianças também aprendem as línguas macuxi e wapixana. "Nos últimos anos, acabou ocorrendo certa aculturação, sim. Por isso, precisávamos fazer esse resgate histórico. Temos adultos aqui que não falam a língua materna", conta Marcílio Curicaca, gestor da Escola Estadual Lino Augusto da Silva.

Crianças de Campo Aberto usam roupas convencionais no dia a dia 

Segundo o gestor da escola, este ano os alunos aprenderam o significado dos Jogos Olímpicos. "Trabalhamos conceitos como coletividade, união e parceria, que têm tudo a ver com a nossa comunidade", explicou Marcilio.

São esses valores que dona Lourdes tenta manter na família. Aos 56 anos, ela tem cinco filhos, oito netos e dois bisnetos. Na comunidade, se destaca pela força do seu trabalho na área da agricultura comunitária e culinária indígena. “Aqui, trabalhamos em parceria com os parentes na roça, fazemos nossa própria farinha e preparamos nossos pratos típicos há várias gerações. Tudo para manter nossa cultura”, ensina.



Para o antropólogo Lucas Lima, que trabalha desde 2009 com a Amazônia, o índio não pode ser visto com uma fotografia do passado e sim como uma possibilidade do presente. “Nossa sociedade se apega muito ao visível. Por isso, muitas pessoas acham que os indígenas estão em processo de transição”, completa.


Dona Lourdes e as crianças da aldeia festejam a chegada da tocha Olímpica 

Fotos: Leonardo Rui e André Luiz Mello