Vila Olímpica tem regalias para atletas, sabores do Rio e "puxão de orelha" nos hóspedes barulhentos
O argentino-canadense Mario Cilenti já morou em seis Vilas Olímpicas e Panamericanas. Agora, prepara suas malas para a próxima estadia, mas não por seu perfil esportivo de ciclista de final de semana. NosJogos Rio 2016, ele é responsável pelo atendimento de todos os comitês nacionais e conhece bem os segredos destas pequenas cidades criadas para milhares de atletas. O trabalho acabou lhe valendo o apelido de "prefeito".
O barulho dos festeiros que atrapalham o sono dos campeões, o estacionamento que funciona como uma rodoviária, com até 300 ônibus, e a logística de um restaurante 24h para 5 mil pessoas estão entre os desafios para a Vila Olímpica do Rio, que será a maior na história dos Jogos, localizada na Barra da Tijuca.
“Cada vila é um pouquinho da cidade e do país sede. Cada uma tem sua própria história”, diz Cilenti, que fez nos Jogos de Sidney sua estreia na residência dos atletas Olímpicos, prestando serviço aos comitês Olímpicos das Américas. “Pequim era perfeito, tudo funcionava bem, mas naquele estilo chinês. Eram só duas ruas paralelas, com vários prédios. Aqui no Rio vai ter palmeiras, um parque, várias piscinas, quiosques.”
Sala de um dos apartamentos da Vila Olímpica (foto: Rio 2016)
Atletas mimados e o sabor do Rio
Para uma tarefa tão complexa, Cilente conta com uma equipe de 96 funcionários, todos com experiências das mais diversas e também vindos de países diferentes, representando mais de 20 áreas funcionais do Comitê Rio 2016. O número de profissionais sobe para 600 até agosto, hora dos Jogos.
A vila está montada num complexo de sete condomínios, ou 31 prédios, com total de 3.604 apartamentos, recém-construídos para serem vendidos no mercado. Os prédios de até 17 andares estão interligados por um parque que será público depois dos Jogos. Um trecho que vai do Centro de Boas-Vindas ao restaurante ganhou nome temporário de Rua Carioca e terá quiosques típicos do Rio, com sucos, açaí e até uma churrascaria. “Queremos mostrar os sabores do Rio”, explica Cilenti. “Tentamos prover o máximo possível para o atleta não precisar sair da Vila. Sai apenas para competir e volta.”
Um dos quartos de atletas na Vila Olímpica (foto: Rio 2016)
O “máximo possível” inclui uma longa lista de regalias, como uma sala de recreação com videogames, instrumentos musicais, mesas de sinuca e ping pong. Para manter a forma, uma academia de última geração será equipada por um dos patrocinadores, a Technogym. A P&G vai montar um salão de beleza onde será possível fazer unhas com as bandeiras dos países, enquanto a Samsung dará um smartphone para cada atleta.
Comer, rezar e competir
Para cuidar também da alma, a vila conta com um centro inter-religioso com espaços dedicados a fé cristã, judaica, islâmica, budista e hindu, com salas de meditação, imagens religiosas, livros sagrados e uma bússola para indicar a direção de Meca. E, para os que quiserem passear e conhecer as belezas cariocas, um serviço levará os residentes para um trecho da praia da Barra, perto do hotel Windsor. “Não será uma infra-estrutura grande, mas haverá salva-vidas, voluntários cuidando das coisas e seguranças”, disse Cilenti, que nasceu na Argentina e foi criado no Canadá.
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Parque Olímpico, na Barra, visto de cima (foto: Brasil2016.gov.br/André Motta)
Parque Olímpico, na Barra, visto de cima (foto: Brasil2016.gov.br/André Motta)
A divisão das delegações pelos prédios é algo delicado, “como um quebra-cabeça”, e a equipe de Cilenti precisa usar toda sua diplomacia. “Por causa de culturas diferentes, e não políticas, temos países que pedem para ficar longe deste ou daquele. Tem países que trazem muita música, fazem muito barulho. A gente sempre tem que dar um puxão de orelha no chefe da missão para evitar isto”, diz.
“Obviamente a Vila tem restrições de barulho. Na segunda semana, já tem alguns que terminaram de competir e começam, digamos assim, a ser mais barulhentos, a sair à noite e voltar tarde. E outros ainda têm finais para ganhar no dia seguinte.”
Como fica a segurança
Além dos mais de 10 mil atletas, ficam na Vila Olímpica oficiais das delegações, como chefes de equipe, treinadores, médicos e psicólogos, totalizando 18 mil pessoas no pico, no meio dos Jogos. Há outras 13 mil pessoas que vão circular pela vila, entre voluntários, funcionários e prestadores de serviços terceirizados. De ponta a ponta, os prédios ficam a 1,5 km de distância, com o restaurante no meio. Hoje, a vila está 70% pronta. Em junho, começa uma grande limpeza, entrada de equipamentos de tecnologia e a instalação de uma cerca dupla de segurança.
Detalhe de um dos edifícios da Vila Olímpica (foto: Rio 2016)
No começo de julho há uma varredura com 500 policiais, muitos acompanhados de cães farejadores, para vasculhar desde o subsolo dos prédios até os guarda-roupas dos apartamentos. “Depois disto, cada um que entrar na Vila terá que passar por um raio-x, até mesmo atletas terão suas malas revistadas”, diz. Em 18 de julho começa a chegada das delegações e, dia 24, os primeiros atletas.
“O espírito carioca dos funcionários e voluntários da Vila vai ser o grande diferencial, uma coisa que os atletas vão levar para casa como boas lembranças de sua estadia na Vila. Este espírito caloroso não foi um dos destaques em Londres ou Pequim porque é uma coisa cultural. E aqui é algo fácil, que sai naturalmente e não tem custo nenhum.”