No Carnaval, estes jovens optaram por "folias" alternativas
Dizem por aí que o ano só começa depois do Carnaval, afinal, o Brasil todo se envolve numa das maiores expressões culturais do país. Mas há quem prefira não cair na folia, e acaba optando por aproveitar os quatro dias de folga de outras maneiras.
É o caso da Aline Paggy: ela faz parte de um grupo de voluntários, não apenas católicos, que nos dias de Carnaval vão para o interior de Campos (RJ), construir uma capela de madeira, destina a uma pequena comunidade católica no meio rural. Atualmente, o padre celebra as Missas em um pequeno barraco coberto com folhas de zinco.
Paggy conheceu o projeto Regnum Christi, dos Legionários de Cristo, em São Paulo, no ano passado, quando também participou de um projeto parecido, no Carnaval. Desde lá, segundo ela, assumiu a liderança do projeto no Rio de Janeiro.
A jovem administradora conta que a experiência é “maravilhosa” porque lhe proporciona tudo que sempre quis: trabalhar com ações desafiadoras, ajudar as pessoas e fazer a diferença.
“É muito gratificante! Primeiro, porque tenho oportunidade de estar com as pessoas, assim, de forma mais intensa, afinal, é como um retiro, onde você fica todos os dias com a pessoa, e fazendo a diferença. Então pra mim é muito bom. É aquela sensação de ‘estou fazendo a diferença, mas também me divertindo. Não é um peso”, afirma.
“É uma oportunidade de ser útil. A gente pode aproveitar o Carnaval, nos divertirmos e levar adiante, renovar o ânimo dessa comunidade que, pelo que já vimos, precisa de um novo ânimo. É algo diferente que todo mundo deveria passar pelo menos uma vez na vida”, completa.
Silêncio, é Carnaval!
Pois é, parece estranho, mas para o seminarista jesuíta, Davi Caixeta, esse será o seu “grito de Carnaval”, e, da mesma forma, para mais de 210 jovens que estarão num retiro de silêncio, promovido pelo Anchietanum (Centro de Juventude da Companhia de Jesus).
O retiro segue a proposta dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, um método de oração, através do silêncio, da meditação e da contemplação; mas também um itinerário espiritual de encontro com Deus.
O Anchietanum adaptou essa proposta em 5 etapas, os Exercícios Espirituais para Jovens (EEJ), que serão trabalhadas especialmente com grupos juvenis. Essas etapas acontecem todos os anos, no Carnaval e em outros períodos no decorrer do ano. Em cada uma das etapas dos EEJ, o jovem é convidado a rezar alguns aspectos de sua vida, de sua história e de sua realidade, à luz da Palavra e, especialmente, inspirado pela pessoa de Jesus.
Davi explica que são muitos os motivos que levam jovens a optarem por passar o Carnaval em um retiro inaciano: busca por um momento de tranquilidade, refletir melhor sobre a própria vida, tirar um tempo para pensar nas decisões, no próprio projeto de vida.
“Além de todas essas motivações, acredito que a principal motivação que leva jovens a fazer um retiro inaciano é a busca e o encontro com Deus, cultivando a espiritualidade, a intimidade com o Cristo, assim, enxergando a própria vida e a realidade com um olhar de misericórdia”, afirma.
Ele destaca ainda que, apesar de ser incomum aos jovens um retiro de silêncio no Carnaval, muitos têm procurado conhecer e se aprofundar na espiritualidade inaciana, tanto durante o Carnaval como em outros momentos.
“Creio que esse fenômeno é algo bem interessante e, em certa medida, revela como a juventude vem sendo marcada pelo desejo de aprofundar a intimidade com Deus e o conhecimento de si, do outro e da realidade. Acredito que faz muito sentido a busca por um retiro como esse, mesmo no tempo do Carnaval, pois a espiritualidade inaciana não é uma proposta de ‘fuga’ da realidade, mas é uma forma especial para rezar a própria vida, buscando e encontrando Deus em todas as coisas, em todas as pessoas”, diz.
A Juliene Barros participou por cinco anos de retiros de silêncio com o Anchietanum. “O retiro foi uma experiência de reavivamento, de descobrir uma nova pessoa dentro de mim, mas tudo no silêncio”, conta a jovem. “Deus pode se manifestar a qualquer momento, desde a criação do Universo, como vamos estudando, rezando e meditando no EE. Confesso que os primeiros momentos não foram fáceis, mesmo eu sendo uma pessoa de não falar muito”, relata.
“Os quatro dias do Carnaval, me fizeram compreender melhor quem sou, e a escutar e a encontrar Deus, em coisas que nos passam despercebidas, no cotidiano. E depois desse dias, ao retornar para casa, eu queria continuar com aquele silêncio, interior e também exterior. Ali eu já sabia: voltaria no próximo ano”, ressalta.
Fonte/foto: Canção Nova